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Creada en 2009 por María Cabal (@miss_cultura), esta web se consolidó como un referente cultural durante más de una década. En 2018, se decidió renovarla por completo y darle un nuevo nombre para reflejar con mayor claridad mi pasión por la cultura en todas sus facetas. Hace unos años se unión al equipo Inés Díaz Arriero aportando su visión y amor por la LIJ Aquí encontrarás un espacio dedicado a nuestra pasión por la cultura, con reseñas honestas y respetuosas de libros, películas y series (entre otras cosas), entrevistas a autores y artistas, crónicas de eventos y mucho más. Colaboramos con editoriales, productoras e instituciones para ofrecerte lo mejor del panorama cultural. Todo lo que hacemos es por amor al arte y a la cultura. ¡Gracias por acompañarnos en este viaje! Equipo: Inés Díaz Arriero: Especialista en Literatura infantil y juvenil. Realiza reseñas y algunas entrevistas literarias LIJ. María Cabal: Especialista en cultura. Alberto Juarez: Especialista en cultura. Diseño: Logo: @Arandanity Ilustraciones: @ReiRei_Mv Web y blog desarrollado por: Lovelogic (Gabriela)

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Entrevista com Cynthia Levitan por Pietra


Cynthia Levitan es Doctora en Diseño por la FBAUP – Universidad de Oporto, con una destacada carrera como escultora y cineasta en el campo de la animación. Cynthia ha creado una impresionante variedad de obras, entre las que se incluyen cortometrajes, esculturas e instalaciones. Además de sus actividades artísticas, Cynthia participa activamente en la educación superior como profesora e investigadora.



— A primeira imagem são essas campainhas com os nomes Teresa, Pierre... por que essa primeira imagem? É um convite para entrar no edifício e conhecer os personagens? Você pensou que a primeira imagem fosse a da campainha com os nomes, já que os nomes são algo importante?


A primeira imagem, com as campainhas e os nomes, funciona como um convite para entrar, o limiar entre o público e o íntimo, uma forma de introduzir os personagens de maneira gradual. Como o filme não tem falas, essa foi a maneira de apresentá-los desde o início através dos nomes, que representam a nossa primeira identidade, aquela que nos é dada antes mesmo de escolhermos quem somos. Ao longo do curta, a mudança de nome da personagem reflete sua transformação interior e o ato simbólico de se (re)nomear. Entre as campainhas, além dos nomes das protagonistas, há também a do “AL”, referência aos alojamentos locais, uma pequena provocação ao problema contemporâneo da habitação e à forma como as cidades se tornam espaços de passagem, onde os turistas encontram lugar, mas os moradores o perdem.



— Teresa tem na prateleira linhas e Pietra fotografias na parede. Threads são uma metáfora das coisas que podem ser consertadas? As fotografias um lembrete de quem você era e quem é atualmente?


Sim, quis colocar ambas as mulheres com seus respectivos trabalhos, pois cada uma se expressa e se reconstrói através deles. A costura, no caso de Teresa, simboliza essa capacidade que todos temos de nos atualizarmos e de nos “remendarmos” constantemente, revisitando os nossos próprios conceitos. Já as fotografias de Pietra servem como ponte entre quem Pierre foi e quem Pietra será, uma espécie de narrativa visual dessa transição. Nas imagens, Pierre aparece em tons frios, cinzentos, mais contidos e melancólicos, enquanto Pietra surge em sépia com toques de cor, mais leve, viva e expansiva, uma tradução cromática do renascimento interior.



— A flor vermelha e chamativa em um capacho marrom apagado e sem saber quem é a pessoa que a deixou — a cor vermelha nas flores pode significar valentia e força, mas também respeito e admiração. Você acha que Pietra sente admiração por sua vizinha e respeito? Ou quer uma trégua com ela?



A flor vermelha é, na verdade, um cravo, símbolo da Revolução dos Cravos em Portugal, um marco histórico de liberdade. No filme, ela representa uma nova revolução: a do corpo. É um gesto simbólico de libertação, tanto para Teresa, uma mulher mais velha que enfrenta as limitações impostas pela idade, quanto para Pietra, que reivindica a liberdade de ser quem é. O cravo é também um ato de amor próprio. Pietra oferece as flores à mulher amada, ela mesma, num gesto de aceitação e reconciliação com a própria identidade. Mas é igualmente um ato de amor ao próximo: ao deixar a flor na porta da vizinha, transforma esse gesto em uma tentativa de paz, uma forma delicada de apaziguar o conflito constante pelo barulho. Mesmo sem reciprocidade, a ação revela o desejo genuíno de conexão, mostrando que, apesar da distância e das diferenças, Pietra ainda busca o encontro e acredita na empatia como forma de resistência



— Os espelhos são muito importantes no curta-metragem e a forma como as duas pessoas se olham é mágica. Pietra com ilusão versus tristeza e Teresa simplesmente odiando essa velhice. Você acha que Teresa se incomoda com a juventude de Pietra? Ou se incomoda com a solidão?


Os espelhos têm um papel essencial no curta, como metáfora da identidade e do modo como nos reconhecemos, e também da crueldade de sermos, tantas vezes, prisioneiras de imagens que nos dizem como “devemos” ser. Eles refletem não apenas o rosto, mas também o peso das expectativas, o medo do tempo e a delicadeza de quem tenta se reconciliar consigo mesma. Teresa não se incomoda com a juventude de Pietra, mas com as diferenças que as separam. É uma mulher moldada por outra época, mais contida e conservadora, enquanto Pietra é expressão de liberdade e afirmação. Apesar do contraste, acabam por se espelhar e se transformar: unem-se no feminino e na solidão que as atravessa. No fim, tornam-se o espelho uma da outra e, ao reconhecerem suas semelhanças no reflexo, encontram empatia e libertação.


— Gosto muito dessas marcas no teto de Teresa. Têm algum significado? Eu, não sei se estou me equivocando, mas cada marca no teto feita com a bengala significa o que acontece com muitas pessoas trans em sua vida: incompreensão, intolerância, agressões... é isso?


Obrigada por esse olhar tão atento e sensível, é exatamente isso! As marcas no teto representam justamente essas cicatrizes invisíveis deixadas pela intolerância e pela incompreensão. São feridas que se acumulam com o tempo, mas também sinais de resistência, de alguém que continua ali, presente, apesar de tudo. E, claro, há também um toque de ironia: as marcas vêm de uma vizinha que reclama bastante, hehe. Gosto dessa mistura entre o simbólico e o banal, onde até um gesto cotidiano pode revelar camadas mais profundas de violência e de humanidade.


— Adorei como há outros objetos no curta-metragem que são relevantes e desconhecemos o motivo até o final, tais como: essa chave deixada na mesinha, essa câmera fotográfica e até mesmo as flores vermelhas. Por que esses objetos e não outros?



Cada objeto no curta foi escolhido com cuidado. A chave, a câmera e as flores funcionam como pequenas pistas, elementos silenciosos que só revelam seu verdadeiro significado com o desenrolar da história.A chave representa abertura e encerramento, o acesso a um espaço íntimo, mas também a libertação. A câmera guarda o olhar, a memória congelada do que foi e do que está prestes a mudar. Já as flores vermelhas são o gesto mais emocional e simbólico, um ato de amor próprio e, ao mesmo tempo, de reconciliação com o outro. Escolhi esses objetos porque todos têm uma relação direta com o tema da identidade e da transformação: são coisas simples, mas carregadas de vida interior, como as próprias personagens.


— Gosto muito da música do curta-metragem e nos momentos em que aparece, sempre acontece algo que faz o curta avançar. Como foi a escolha musical?


A música é de autoria da talentosa Marina Alcantud Gaya. Desde o início, eu queria uma composição que permanecesse na mente do espectador. Por isso, a música que Pietra escuta se repete várias vezes, uma melodia popular, simples e hipnótica. Mas tambem cada personagem tem a sua própria musicalidade: Pietra é guiada por uma composição mais contemporânea, vibrante e livre, enquanto Teresa habita um registro mais clássico. Essa oposição sonora acentua o contraste entre as duas e, ao mesmo tempo, revela a harmonia que nasce quando seus mundos finalmente se tocam.


— Pietra e Teresa não falam, mas dizem tudo com gestos e olhares. Que palavra teriam dito uma à outra no início do curta? E no final?

Na primeira versão do curta, as personagens tinham falas, mas em determinado momento percebi que o silêncio dizia muito mais. Decidi então eliminar o diálogo e construir a narrativa apenas através das ações e das emoções. Achei fascinante esse jogo, porque revela o quanto somos capazes de comunicar sem palavras. No fundo, o curta fala sobre aprender a amar, a si mesmo e ao outro. Se Teresa e Pietra dissessem algo no final, talvez fosse apenas um simples “obrigada”. Não por algo concreto, mas por finalmente terem conseguido ver e serem vistas.

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